A Fundação Cultural Tancredo Neves, como é conhecido o Centur, foi uma obra que inaugurei para acolher e homenagear os nossos talentos e também porque no Pará não havia um espaço que abrigasse grandes reuniões, seminários ou feiras. À época foi o maior e mais moderno centro cultural da região Norte, palco de explosões artísticas vindas de todos os municípios e que aconteciam no Projeto Preamar. Com o Centur, o Pará ganhou seu primeiro centro de convenções e passou a abrigar eventos nacionais e internacionais de grande importância como foi o caso do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, uma espécie de preparatória para a Rio-92, entre muitos outros. Foi construído com recursos do Estado, sem nenhum financiamento externo.
Faço essa referência ao Centur porque ele representa o marco transitório entre o fim dos governos militares e o início da Nova República. Ali só existia um esqueleto de prédio desde 1978, que por vários anos a população viu apodrecer. Sua inauguração, em junho de 1986, permitiu a livre expressão popular, a exibição dos nossos talentos, a recuperação de nossa identidade cultural. É quando o paraense passa a ter acesso fácil ao teatro, à música, artes plásticas, dança, cinema e também a palestras e discussões sobre tantos assuntos antes proibidos e agora disponíveis em pleno centro da cidade. Todas as manifestações culturais do nosso território se apresentam e se integram em Belém para formar uma nova identidade artística, sem preconceitos, sem barreiras, e esse movimento vai ser responsável pela revelação de novos cantores, escritores, atores, artistas plásticos, grupos musicais, de teatro e dança que, através do sucesso – vão levar o nome do Pará ao Brasil e ao mundo. O Centur é a casa do artista paraense, um lugar onde se encontram vanguarda e tradição, que recebe personalidades e autoridades do mundo todo.
No Centur estão o Teatro Margarida Schivasappa, homenageada por ser uma artista apaixonada por seu trabalho e que criou o primeiro grupo de teatro do Estado, formado por estudantes; o cinema leva o nome de Líbero Luxardo, um escritor, político e precursor da produção cinematográfica paraense, diretor de Um Dia Qualquer, Os Brutos Inocentes e Marajó: Barreira do Mar. Os dois não nasceram aqui, mas viveram e amaram esta terra como se paraenses fossem. A Biblioteca Pública Arthur Viana, antes abrigada num prédio inadequado e com reduzidos títulos, é hoje o maior espaço para pesquisadores e estudantes. Há ainda a Fonoteca Satyro de Mello – criada a partir da aquisição do acervo do maior colecionador brasileiro de discos e gravações, numa disputa travada com o governo de São Paulo – além do Centro de Eventos Ismael Nery, do Hall Ernesto Cruz, da Sala Haroldo Maranhão e da Galeria Theodoro Braga.
Apesar de hoje o Centur estar um pouco opaco, precisando urgente de reforma e novos equipamentos, ainda é um patrimônio cultural, um lugar por onde passam centenas de estudantes todos os dias e – independente do descaso do poder público – é o local de educação e cultura mais visitado, principalmente pela juventude. Sua história vai atravessar o tempo e seus espaços alternativos vão continuar a integrar o público e o artista.
JADER BARBALHO
*Texto originalmente publicado no jornal Diário do Pará no dia 02 de maio de 2010