O cheiro do tucupi quente e o perfume do jambu que arrepia a boca estão prestes a ganhar um novo significado para o povo do Pará. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Iphan abriu consulta pública sobre o processo de registro do Ofício de Tacacazeira como Patrimônio Cultural do Brasil — um passo decisivo para eternizar oficialmente um dos ofícios mais emblemáticos da Amazônia.
O Iphan já concluiu a etapa de pesquisa e documentação dos saberes e fazeres do tacacá nas sete capitais da região Norte. O levantamento, feito com rigor e sensibilidade, foi conduzido pela Universidade Federal do Oeste do Pará Ufopa— e teve investimento de R$ 350 mil, oriundo de emenda parlamentar do senador Jader Barbalho (MDB-PA).
O senador Jader Barbalho, autor da emenda parlamentar que viabilizou o projeto, falou com emoção sobre a importância desse reconhecimento: “O tacacá é um símbolo da nossa gente. É o sabor do Pará servido em uma cuia. Apoiar o registro do ofício das tacacazeiras é valorizar a mulher amazônida, o saber tradicional e o orgulho de ser paraense. O tacacá é uma herança viva — e ninguém vai tirar isso do nosso povo.”
Memória viva das tacacazeiras
Iniciado em 2024, o projeto vem produzindo um valioso conjunto de registros audiovisuais e documentais que integrarão o dossiê a ser apresentado pelo Iphan ao Conselho Consultivo, órgão de decisão máxima do Instituto. Esse dossiê será a base para o reconhecimento oficial do ofício de tacacazeira como Patrimônio Cultural do Brasil.
Graças ao apoio da emenda feita pelo senador Jader, foram feitos oito vídeos — sete curta-metragens e um média-metragem — com histórias de vida e receitas de mais de 60 tacacazeiras e tacacazeiros das cidades de Belém, Boa Vista, Macapá, Manaus, Palmas, Porto Velho e Rio Branco. O projeto inclui ainda registro fotográfico e documentação detalhada sobre o ofício, compondo um retrato completo dessa tradição que atravessa fronteiras e gerações.
Tradição que alimenta corpo e alma
Ser tacacazeira é mais do que preparar uma cuia fumegante: é carregar séculos de saberes, histórias e afetos. É o gesto de quem acorda cedo para escolher o tucupi bom, ferver o jambu na medida certa, preparar o camarão e servir com um sorriso aquele caldo que, de tão forte, parece conter o próprio espírito do Norte.
“Essas mulheres – hoje temos o ofício passado para outros integrantes das famílias, com filhos e herdeiros que mantêm uma tradição que é patrimônio do Brasil. Cada cuia vendida é um pedaço da nossa história sendo preservado. Apoiar o Iphan nesse processo é um gesto de respeito às nossas origens”, destacou o senador Jader Barbalho sobre o papel do registro como instrumento de valorização cultural e econômica.
Processo que começou há mais de uma década
O caminho até aqui é longo e cheio de conquistas. Em 2010, o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular CNFCP, responsável pelo inventário das celebrações e saberes da cultura popular, entrou com o pedido de registro do Ofício de Tacacazeiras da região Norte no Livro dos Saberes.
Esse processo tem origem no Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) de 2006, que já havia destacado as práticas e modos de fazer relacionados à mandioca no Pará. Com o início do novo trabalho em 2024, em parceria com a Ufopa, o processo de reconhecimento como Patrimônio Cultural ganhou novo fôlego — agora com o olhar e o protagonismo amazônico.
Raízes indígenas e sabor amazônico
O tacacá é uma iguaria com raízes profundas na cultura indígena, feita de tucupi, goma de mandioca, camarões secos e jambu, um tempero que desperta o paladar e as memórias. Servido quente, o prato é conhecido por seu sabor único e também por suas propriedades medicinais.
Ao longo dos anos, o tacacá tornou-se parte fundamental da identidade gastronômica e cultural do Pará, e de toda a Amazônia. É presença garantida em festas, romarias e encontros de família — e símbolo de resistência e afeto.
No dia 13 de setembro, o Pará celebra o Dia da Tacacazeira, uma homenagem às guardiãs dessa tradição. Mulheres que, com suas cuias fumegantes e saberes ancestrais, mantêm viva a alma amazônica.
Consulta pública
Na fase final, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Iphan abriu uma consulta pública para ouvir a sociedade sobre o registro do ofício das tacacazeiras como Patrimônio Cultural do Brasil.
O processo busca reconhecer oficialmente essa tradição amazônica ligada ao preparo do tacacá, uma das iguarias mais simbólicas da região Norte.
Até o dia 19 de novembro de 2025, qualquer pessoa pode enviar opiniões, relatos, sugestões ou informações sobre o ofício tradicional.
As manifestações podem ser enviadas por e-mail para o conselho.consultivo@iphan.gov.br; por correspondência para o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural SEPS 702/902, Centro Empresarial Brasília 50, Bloco B, Torre Iphan, 5º andar, Brasília-DF, CEP 70390-135); ou Pelo Protocolo Digital disponível no site oficial do Iphan. Todas as contribuições serão analisadas pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão que decide sobre o reconhecimento de bens culturais no país.
Para o senador Jader, o registro do Ofício de Tacacazeira como Patrimônio Cultural do Brasil é mais do que um ato administrativo — é um gesto de reconhecimento e amor pela Amazônia. “Uma vitória das tacacazeiras, do povo paraense e de todos que acreditam que preservar o passado é garantir o futuro”, concluiu.




