As Marujadas de São Benedito do Pará estão agora registradas como Patrimônio Cultural do Brasil. Por unanimidade, o Conselho do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) aprovou o reconhecimento da festividade dos marujos e das marujas, iniciada por um grupo de africanos escravizados do então governo-geral do Grão-Pará e Maranhão. A Marujada tem seu primeiro registro em 1789, no período colonial, quando nasceu a Irmandade de São Benedito. A irmandade tinha o propósito de realizar uma festa em louvor ao santo preto, com música e dança nas casas da região.
Em 2011 foi feita a primeira solicitação de registro da Marujada junto à Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) do Pará. Porém, por não haver indicação de recursos para realizar todas as pesquisas que constituem um inventário, o trabalho não foi iniciado.
Em 6 de junho de 2017, o senador Jader Barbalho visitou o município de Bragança, onde anunciou apoio por meio de indicação de emendas individuais para viabilizar o inventário para o registro histórico. A primeira emenda parlamentar indicada pelo senador, no valor de R$ 200 mil, foi liberada em 2019 e festejada pela população bragantina, que aguardava há anos a realização de um dos mais antigos sonhos de marujas e marujos de Bragança.
A emenda individual foi indicada ao Departamento de História da Universidade Federal do Pará, campus de Bragança, que elaborou o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), o mais importante passo para consagrar o título à Marujada de São Benedito de Bragança.
Em setembro de 2021, foi realizado pelo governo federal o pagamento de nova emenda, no valor de R$ 200 mil por meio de emenda parlamentar individual, indicada no Orçamento da União em 2020 com a finalidade de concluir o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) para consagrar o título à Marujada de São Benedito de Bragança.
“Pela importância histórica e cultural da Marujada determinei a indicação de emendas parlamentares com a finalidade de contribuir para que essa manifestação cultural ganhe ainda mais força e espaço no cenário nacional como manifestação e expressão do patrimônio cultural brasileiro”, reforçou o senador naquele ano.
Todo o trabalho de levantamento de informações e registros para a realização do inventário foi coordenado pela Departamento de História da UFPA em parceria com a Superintendência do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) do Pará.
O Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) é um levantamento que tem por finalidade identificar, documentar e registrar bens culturais brasileiros para subsidiar a elaboração de políticas para sua salvaguarda.
“Além da religiosidade, a Marujada representa a valorização da cultura e da história do povo paraense na região bragantina. É fundamental que uma manifestação como esta seja preservada para garantir que as gerações vindouras tenham acesso a essas expressões tão ricas da nossa cultura”, destacou Jader Barbalho.
Apesar de a pesquisa do Dossiê de Registro ter enfatizado a marujada que em Bragança, por ser a maior e mais representativa, o Iphan considerou as marujadas inventariadas com elementos compartilhados nas cidades de Quatipuru, Tracuateua, Augusto Corrêa, Primavera, Capanema e Ananindeua, podendo, posteriormente serem mapeadas a ocorrência de marujadas em outras localidades.
“Há um conjunto de características que dão unicidade às marujadas: devoção a São Benedito ou São Sebastião, vestimentas típicas, levantamento e derrubada de mastros, danças, almoços, leilões e rituais religiosos com procissões, esmolações, missas, novenários e pagamento de promessas”, detalhou o Iphan.
As marujadas são uma referência de celebração realizada tipicamente na região nordeste do Pará e Ananindeua e atrai turistas e visitantes todos os anos para acompanhar as festividades. “É representativa dos grupos formadores da sociedade brasileira tanto católicos como não católicos”, detalhou o texto do inventário.
As manifestações culturais imateriais, como saberes, ofícios, formas de expressão, celebrações e rituais, são protegidos por meio do instrumento denominado registro, que busca assegurar a continuidade e valorização dos bens culturais imateriais reconhecidos como Patrimônio Cultural do Brasil.
O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural é o órgão colegiado de decisão máxima do Iphan para os assuntos relacionados ao patrimônio brasileiro material e imaterial, sendo responsável pelo exame, apreciação e decisões relacionadas à proteção do Patrimônio Cultural Brasileiro. A atuação abrange o tombamento e rerratificação de tombamento de bens culturais de natureza material, o registro e reavaliação de registro de bens culturais imateriais e a autorização para a saída temporária do país de bens acautelados pela União, além de opinar sobre outras questões relevantes.