Jader Barbalho - Diário do Pará, 38 anos.

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Diário do Pará, 38 anos.

Os historiadores recomendam que, ao examinarmos um episódio, fato ou comportamento das pessoas é necessário que esse exame seja feito à luz do momento em que ocorreu, levando-se em conta a conjuntura da época e as circunstâncias existentes naquele momento em que tal fato ou episódio aconteceu. Isso torna-se necessário sob pena de chegarmos a juízos equivocados ao não levarmos em conta estas condicionantes.
Os episódios históricos não podem ser vistos com o olhar do presente, mas sim com a atenção aos fatos que permitirão compor o conjunto de dados sobre o ambiente na época em que aconteceram.
Assim nascia o DIÁRIO, há 38 anos. O ano era 1982. Pela primeira vez desde 1965, seriam eleitos pelo voto popular os governadores estaduais. No Pará surgia o clamor por parte de jovens lideranças que se fosse criado um novo espaço de comunicação, já que os jornais locais da época estavam todos comprometidos com um único grupo político. Inexistia a mínima possibilidade do contraditório, fundamental em uma sociedade democrática, sob pena de imenso prejuízo da informação que, inevitavelmente estava sujeita a ser única e manipulada.
Urgia entre aqueles que almejavam mudanças na condução política no Estado do Pará o desejo de ter o direito de espalhar suas ideias e opiniões para o eleitorado, já que nos dois jornais locais – A Província do Pará e O Liberal – não havia espaço para divulgação de uma linha sequer sobre aquela nova candidatura que nascia de lideranças do povo, de sindicalistas, de agremiações estudantis, de mulheres, jovens, homens, agricultores, ribeirinhos, de uma infinidade de setores da população.
Nascia junto à ideia de se criar um espaço para divulgar o contraditório, uma nova forma de fazer política no Pará, uma campanha que iria percorrer todo o Estado, no corpo a corpo, numa composição ampla em torno de um ideal.
Foi assim que meu saudoso pai, Laércio Barbalho, abraçou a causa e passou a buscar, noite e dia, uma alternativa para fazermos frente ao poder político instituído na época e que não permitia espaço ao contraditório, ao novo, às ideias que surgiam nas universidades, no campo, entre os trabalhadores e tantos outros seguimentos que de fato construíam e faziam crescer esse nosso grande Estado do Pará.
Eu fui então a São Paulo comprar nossa primeira rotativa, uma Marinoni, máquina francesa adquirida normalmente por novos jornais, editoras e gráficas que compravam essas pesadas impressoras de outras empresas que estavam fechando as portas ou querendo reformular seu parque gráfico.
E foi assim que encontrei a velha Marinoni no bairro do Bexiga, em São Paulo. Pesando mais de 10 toneladas, ela chegou a Belém após algumas semanas de viagem na traseira de um caminhão. Ela foi montada em um prédio no bairro Batista Campos, na rua Mundurucus, onde virávamos noites em busca do sonho de democratizar a comunicação no Pará.
Foi uma longa caminhada. Criamos o DIÁRIO em condições totalmente adversas. Meu pai acompanhou todo o trabalho e conseguiu conceber um veículo de comunicação não como um gesto de poder político implantado, pelo contrário. O DIÁRIO surgia em 22 de agosto de 1982 como um instrumento alternativo de comunicação, que passou a dar vez e voz à população paraense.
Com o nascimento do DIÁRIO foi possível, a partir daquele ano, divulgar a realidade política e o que se propunha para fazer uma verdadeira mudança junto com a sociedade paraense. Considero esse projeto um dos mais importantes para a consolidação democrática no Estado do Pará.
Ao longo do tempo o projeto se modernizou. O que foi uma ideia que surgiu de meu pai, hoje é administrado por seu “neto”, Jader Filho, que junto com Camilo Centeno e com o saudoso amigo, que nos deixou esse ano, o Chico Melo, criaram o Grupo RBA de Comunicação.
Temos muito o que comemorar com todos os nossos colaboradores, com os que se foram e que nos deixam saudades, com os que tornam a edição diária possível, desde a redação, a publicidade, o comercial, nosso importante setor gráfico até aquele amigo distribuidor, que entrega nosso produto ao povo paraense.
O DIÁRIO é hoje líder em circulação e em aprovação por meio de seus veículos eletrônicos. Após essa longa caminhada, faz hoje parte da história política do Estado ao quebrar o monopólio da comunicação, obstáculo à democratização em qualquer segmento, sobretudo no meio da informação, onde impede que a população tenha mais de uma única versão do fato. É isso o que temos que festejar hoje.