As melhores e maiores obras dos meus governos foram determinadas por um sentimento de angústia, sentida por mim, enquanto percorria o interior do Pará. A Ponte do outeiro foi assim. Outeiro, antes da ponte, era a principal praia frequentada pela população pobre. Famílias inteiras, para ter algumas horas de lazer nos fins de semana e feriados, saíam de madrugada de suas casas, enfrentavam longas filas de espera por ônibus, para então fazer a travessia de balsa, do Rio Maguary. Depois tomavam outro ônibus para enfim chegar à praia. Era um drama.
Muitas vezes eu pensei e pensei que tudo seria tão mais fácil se houvesse uma ponte para que as famílias pobres pudessem ter acesso rápido e assim mais tempo de lazer. Confesso que quando construí a ponte, não pensei em progresso ou desenvolvimento do distrito. Pensei na população mais pobre, nas crianças e jovens. Pensei no quanto o lazer faz bem à saúde. E pensei, também, na população da ilha, isolada do continente por menos de 500 metros, sem poder escoar sua produção ou receber gêneros com rapidez e segurança, porque a balsa de vez em quando sofria algum tipo de acidente ou avaria. Também era muito sofrimento para os moradores da ilha que precisavam vir a Belém diariamente.
O tempo de construção da ponte foi recorde: sete meses. Foi inaugurada num claro dia de domingo, às 10 horas, em 26 de outubro de 1986, em meio a uma das maiores festas das quais já participei em toda a minha vida. Foi totalmente construída com os recursos dos paraenses. Não há um centavo de investimento federal ou de qualquer outra fonte. À época, custou 83 milhões de cruzados. Tem 360 metros de extensão, por 11 metros de largura, além de área para pedestres. Sua estrutura e toda em aço e concreto armado. A construção exigiu ainda que outra ponte menor, de 30 metros, fosse feita sobre o Riacho Taboquinha, e também a pavimentação da estrada de acesso à ilha.
O nome da Ponte do Outeiro, Enéas Martins, é uma homenagem a um homem que foi vítima da história política e que foi governador do estado, ligado ao Barão do Rio Branco. Enéas Martins foi um homem público brilhante, que veio ao Pará tentar apaziguar o caos político da época, arrumar as contas públicas. Veio para ser imparcial. Foi mal compreendido, perseguido pelo maior jornal da época, A Folha do Norte e pela pena terrível do jornalista Paulo Maranhão que tinha total apoio da Polícia Militar. No seu editorial final, com o título A Você, Enéas, Paulo Maranhão destilou todo o seu veneno contra um homem que era paraense, uma figura importante no governo federal, que voltou ao Pará para ajudar seus conterrâneos, mas foi deposto num golpe da Polícia Militar, com a ajuda da Folha do Norte. Desgostoso, Enéas Martins voltou para sua casa no Rio de Janeiro, de onde não saiu mais. Morreu de depressão.
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